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POLÍTICA, O ÚNICO CAMINHO REAL PARA TRANSFORMAÇÃO

Tenho sentido muita saudade de Zé. Estivemos os 45 dias de campanha juntos. De carro, bicicleta e até barco.

Muitas vezes ele pegava rotas alternativas, parava em lugares diferentes ou estendia conversas. Como minha função era fazer que a agenda funcionasse, tentava colocar um ponto final e voltar pra rota.

Numa dessas vezes, ele entrou com o carro por Campos Novos para perseguir o curso do Rio Una. Alguns ambientalistas diziam que, de tão assoreado, a água estava retornando.

Na beira do esvaído rio, ele me chamou pra conversar. Disse que aprendeu com os anos que campanha eleitoral não era só para pedir voto. Era preciso aproveitar as jornadas para conhecer lugares que não são da sua rotina. Mudar a rota, olhar para os lados. Entender quem estuda naquela escola, quem se cuida naquele postinho. Enxergar como uma oportunidade para ajustar o discurso.

Que quando você entra na casa de uma pessoa, ou caminha por um bairro, não é só você que transmite uma mensagem. Se você não sair daquele momento transformado, entendendo melhor da cidade através dos olhos de quem vive naquele lugar, sentindo suas dores e desejos, a experiência não estava completa.

Depois que entendi isso, percebi da sorte que tinha de conhecer cada metro quadrado de Cabo Frio ao lado de Zé. Contava sobre os primeiros moradores do bairro, de suas visitas quando jovem vereador, de quem fez cada rua, cada poste, das vida de que nenhum livro de história guardou, mas cujo nome empresta para escolas.

Acredito que minha curiosidade, e as informações que trazia da faculdade e de livros também o interessava. Nisso, vivi 45 dias, das 6 da manhã a meia noite.

Nunca vi Zé pedindo voto. Ele abordava a pessoa com muita sensibilidade, pedia sugestão para algum projeto, e então pedia que trabalhassem juntos para realiza-lo. Algumas pessoas o questionavam sobre isso, diziam que ele tinha que falar sobre ele, e ele dizia: “não é sobre mim”.

A política é isso: o único caminho pra real transformação. E, pra isso, o político precisa se entender parte da realidade que quer transformar, mas nunca o todo.

  • Pedro José Sá Ferreira Ramos. estuda Relações Internacionais pela UFRJ.
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