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PORQUE JOGAR TÊNIS ME FEZ SER UMA PESSOA MELHOR

Poucos sabem, mas em quase todos os torneios de tênis, até o estágio semiprofissional, não existe árbitro em quadra. Os próprios jogadores zelam e marcam os pontos das partidas. O jogo é controlado e arbitrado pelos próprios jogadores, ao contrário do futebol, no qual enganar o juiz e “cavar” um pênalti é normal, comemorado e até ensinado. Desculpe, isso não é para desvalorizar o futebol, esporte que amo igualmente ao tênis, mas lamentavelmente é assim que acontece. Infelizmente faltou uma certa habilidade com os pés, mas me dei bem com uma raquete na mão, rs!

Lembro-me de um episódio do zagueiro Rodrigo Caio, hoje no Flamengo, que quando jogava no São Paulo, acusou para si uma infração e foi criticado pelos dirigentes do clube e outros companheiros em campo. Este caso foi notório na mídia. No tênis ser “descolado” é ser honesto e respeitoso. Tenistas não gostam e não aceitam jogadores malandros e que buscam a vitória a qualquer preço “garfando” pontos. O ambiente molda a correção, a justiça com o resultado, e consequentemente, a honestidade de propósitos. Isso acontece também no circuito profissional.

Em um torneio de tênis dos 36 ou 128 inscritos apenas um sai campeão. Todos os outros terão que lidar com a frustração de perder. E não pensem que o campeão não terá que também lidar com a frustração de perder. Em uma partida de tênis são disputados algo próximo de 100 pontos ou mais. O vencedor da partida costuma perder 40% destes pontos, alguns deles muito importantes e doloridos. Jogar tênis nos faz aprender a perder a todo instante, mas também ensina que o próximo ponto começará em vinte e quatro segundos e não há tempo a perder.

No tênis o treinador não fica dentro da quadra orientando o jogador. Às vezes, até fala algo da arquibancada, mas como jogar o próximo ponto, tomar ou não água, chamar ou não o árbitro, vibrar ou ficar quieto, desistir ou persistir, são decisões que cabem aos jogadores. Isso acontece centenas de vezes durante uma partida. São várias decisões por ponto. O tenista é desafiado o tempo todo a controlar suas emoções, desenvolvendo o equilíbrio entre coragem, responsabilidade, medo, ansiedade e muitos outros sentimentos que surgem dentro da quadra. Jogar tênis é ter a oportunidade de sentir o frio na barriga de bater um “pênalti” várias vezes durante o jogo e lidar com a frustração de errar ou a euforia de fazer o “gol”.

Independência, criação de amizades e ambiente saudável são alguns dos muitos outros elementos que eu poderia citar para mostrar como espetacular é este esporte. O tênis nos deu Roger Federer, independente de resultados, é para mim o maior tenista de todos os tempos e um dos maiores esportistas do mundo. Sou seu admirador, pois é um exemplo de atleta e ser humano. Sua Fundação ajuda milhares de crianças no mundo, principalmente na África.

O tênis cria os ferimentos com a profundidade e frequência ideal para tornar seu coração forte o suficiente para bombear o sangue e o oxigênio necessário para a luta. Porque viver é vencer desafios. Viver é lutar e só a luta muda a vida! O esporte sempre pode nos dar lições para a vida, seja ele qual for. Cada um de nós pode através das experiências vividas contribuir para se situar melhor no mundo. Se a minha hérnia de disco deixar espero jogar até ficar bem “velhinho”!!

Claudio Leitão é tenista amador esforçado, economista e professor de história.

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