Iquê, Peixinho e Fofonso, no caminho da Praia Brava.
Foto: Amena Mayall.
Meu avô Joaquim Nogueira, teve com a vovó Chiquita doze crias de filhos e filhas. A última a nascer foi Ana Maria, tia Neném, irmã da minha mãe Heloísa, a 11ª a nascer e vingar. Nós aqui de casa a chamávamos carinhosamente de “Badinha”, que além de queridíssima de todos nós, era a “madrinha” do meu irmão Luciano, o Nanãn. Badinha era a única que me chamava de Iquê. Eu adorava escutá-la me chamar assim: Iquê.
Tia Neném se casou com Dão e tiveram 4 filhos. Dete, Cristina, Fonfonso e Juninho. Fomos todos muitos próximos e presenciamos as duas irmãs realmente felizes quando estavam juntas. A proximidade dessas duas irmãs e de nossas idades fez com que eu; Iquê e Fonfonso, fossemos muito parceiros em diversas aventuras.
Quando Dão e tia Neném moraram em Niterói, por pouco tempo, frequentávamos com frequência as respectivas casas. Mas bom mesmo eram os quatro meses de férias em Cabo Frio, quando eu sabia que iria me encontrar com meu primo Luiz Afonso pra pescar, explorar, brincar pelos generosos espaços naturais que a cidade de Cabo Frio sempre nos proporcionou. Foram inúmeras aventuras que tive a oportunidade de viver com Luiz Afonso. Quando sua família foi morar no Algodoal, numa casa maravilhosa perto da Torre de Rádio que ficava instalada num charco pantanoso de vegetação alta, característica deste meio ambiente, passeávamos por dentro dessas plantas aquáticas amassando-as e derrubando as folhas compridas fazendo caminhos por dentro do brejo. Ali, pescávamos Carás com uma vara, com nylon fino com anzol e rolha na ponta. Usávamos como iscas minhocas que a catávamos pelo caminho. Adorávamos subir nas amendoeiras, catar e derrubar as amêndoas carnudas vermelhas e brancas. Quebrávamos os caroços da fruta, à procura das amêndoas que se encontravam lá dentro e as saboreavamos como se estivéssemos encontrado ouro.
Pescávamos primitumas (carapicus), cocorocas, peixe-reis e mariongos pelo cais. Atravessávamos a ponte Feliciano Sodré procurando um melhor “pesqueiro” perto da fábrica de gelo. Andávamos pela enorme coroa da Gamboa pescando siris, catando sarnambis que os cozinhávamos para serem servidos com arroz.
De barco a remo, que nós consertamos na minha casa na Rua Joaé Bonifácio, navegávamos e explorávamos o canal do Itajuru do Anjo Caído à Boca da Barra calculando e aproveitando as marés para facilitar a remada.
Andamos pelas restingas da Praia Brava e da Dama Branca sempre com Luiz Afonso exercitando todo seu talento de apreciador e conhecedor das plantas silvestres da região. Comíamos pitangas, abricós, coco guriri e outras frutas que ele conhecia.
Um dia Luiz Afonso me procurou dizendo que havia conseguido um pequeno barco a motor, mas que precisava de uma reforma, principalmente no casco. Se fazia necessário calafetar e arrumar o casco da embarcação. Ficamos de certa forma parceiros nessa nova aventura. Nessa época eu morava em Niterói e ele em Cabo Frio. Provavelmente nossos pais nos ajudaram no investimento dessa aventura. Realmente não me lembro e também não faz a menor importância no contexto da epopeia que vou narrar.
Luiz Afonso me liga dizendo: – Zé o barco está pronto , vamos colocá-lo dentro da água e dar uma volta na Praia do Forte. Não me lembro bem, mas acho que o destino era ilha do Pontal. Saímos da boca da Barra, o mar estava calmo, o vento nordeste era só carinho em nossas peles morenas. O barco navegava bem, motor centro com aquele som característico, trepidando o casco e o nosso corpo. A fumaça ia com o vento, mas era possível sentir o cheiro do óleo queimado. O som da água no casco inebriava os nossos sentidos já então devidamente aguçados.
Era um grande momento e nada precisava ser dito, apenas olhávamos o mar e a praia do Forte passando. De repente o capitão falou um pouco mais alto do que o necessário: – tem algo errado com o motor! Ou seria: – o barco está fazendo água! Realmente não me lembro. Mas sei que era um problema e que fiquei apreensivo. Eu estava viajando e não no comando do barco, e demorei alguns segundos para entender a situação. Olhei a praia, estava distante, voltar não dava, coletes salva vidas nem me lembro. Luiz Afonso manteve a calma graças a Deus e num gesto no leme embicou a pequena embarcação em direção à praia e disse: vamos encalhar na areia da praia. Estávamos na altura das casuarinas, o mar calmo e a maré vazia facilitou a manobra. Enquanto o barco ia em direção à praia ele ia se programando com tranquilidade dizendo: – encalhamos o barco na areia da praia e depois eu dou um jeito de vir buscá-lo. O barco chegou na praia e puxamos ele o máximo que podíamos na praia. Cravamos a poita na areia, nos olhamos e passamos a caminhar de volta para a cidade pela praia.
Quem conheceu Luiz Afonso sabe que com ele não tinha tempo ruim, ainda mais nessas aventuras. Caminhamos pela areia das Casuarinas até as proximidades do Malibu onde nos separamos. Não me lembro o que conversamos pelo caminho. Possivelmente onde e quando seria a próxima aventura. Eu voltaria para Niterói naquele dia e ele ficaria em Cabo Frio. Depois disso, pelo que me lembro, nós nos encontramos uma ou duas vezes muito tempo depois dessa história. Aliás, a última e mais intensa de todas as que vivemos juntos. Tão marcante que às vezes penso: será que existiu essa história ou foi um devaneio ?
Nessa época em Cabo Frio, a realidade e os sonhos habitavam simultaneamente o mesmo espaço. Valeu meu querido parceiro! Viva Luiz Afonso!
Jose Henrique Nogueira
primo irmão de Totonho
6 respostas em “FOFONSO E IQUÊ: PARCEIROS PARA SEMPRE”
ZE HENRIQUE TEXTO EMOCIONANTE. ME SENTI ANDANDO NESTA AVENTURA COM VOCÊS MESMO COM O TERRÍVEL MEDO QUE TENHO DO MAR. ISSO MESMO IMA CABOFRIENSE QUE SEMPRE TEVE MEDO DO MAR. MAS NESTA AVENTIRA AFETIVA NÃO TIVE NEM LEMBREI DO MEU MEDO. OBRIGADA
Obrigado!
Também tive o privilégio de andar nesse barco ,aliás, eu o chamava carinhosamente de ” Gandolinha ” ,ilusão ao grande mergulhador Gandola ,e neste único passeio que fiz ,pois tenho pavor de mar ,foi a única vez que atravessei a boca da barra ,pra mim uma aventura . Grande Luis Afonso ,meu amigo Gandolinha .
Valeu Richard ! Que bom saber!
Também tive o privilégio de andar nesse barco ,aliás, eu o chamava carinhosamente de ” Gandolinha ” ,ilusão ao grande mergulhador Gandola ,e neste único passeio que fiz ,pois tenho pavor de mar ,foi a única vez que atravessei a boca da barra ,pra mim uma aventura . Grande Luis Afonso ,meu amigo Gandolinha .
Abraço!!🙏🏼