O Night Club, em São Cristovão, foi dos melhores acontecimentos da noite de Cabo Frio: duas bandas de estilos e ritmos diferentes, lotando os dois andares da casa! Cerveja gelada, batida de limão e cachorro magro acompanhavam aquele “bate-coxa”. Vez por outra, a pedidos, o conjunto de samba lascava um “miudinho”, pra quem gosta e sabe das coisas, gente como Paulinho da Viola, Manacea, Casquinha, todos da Velha Guarda da Portela.
Muito duro, sem jeito deixava para o “amigo de fé, irmão camarada” a tarefa de fazer as firulas com as meninas e porque não com as coroas bem dispostas. Às vezes era tanta presepada, que custava aos dois corrida até o ponto de ônibus mais próximo: fazia parte. Por sorte o motorista conhecia aquela dupla de tantos outros carnavais e noitadas.
No final da noite, quando ficava sem tostão, a dupla encontrava aquela carona piedosa e salvadora. Certas madrugadas, não rolava nada, nem carona e sem dinheiro para o ônibus o jeito era sair se arrastando, do clube até a Padaria de Seu Luiz, no centro da cidade. Um estirão!
Nessa época, o prefeito tinha lançado perto da rodoviária, o “Muro do Amor”, terreno descampado que tinha uma baita árvore, embaixo da qual o prefeito psiquiatra dava consultas ao ar livre e atendia centenas de pessoas diariamente. Navegando na maré, criou a “Pira da Corrupção” e em cerimônia festiva anunciou que ali iria queimar e transformar em cinzas toda a corrupção da cidade. A “pira” propriamente dita era um enorme tacho, que ficava no centro do terreno.
Quando no meio da madrugada a dupla, escorraçada pelos porteiros do Night, viu aquele tacho iluminado, não resistiu à tentação, pulou o muro, que tinha meio metro de altura, juntou o que restava de forças, derrubou o tacho do pedestal e se mandou pela madrugada em direção a padaria, que ficava na frente do prédio do Charitas, centro da cidade. Lá a generosidade de Seu Luiz garantia no mínimo aquela média de café, com pão e manteiga na chapa.
No dia seguinte, a manchete do único jornal da cidade trazia: vândalos derrubaram a “Pira da Corrupção”!
Lopes da Guia