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ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO

Luciana G. Rugani

Tempos atrás, quando a tecnologia começava a sinalizar que chegaria para ficar e, ano a ano, percebíamos as transformações tecnológicas tomando força em nosso cotidiano, pensávamos que isso traria benefícios também para o trabalhador, o qual teria, à sua disposição, recursos que poderiam tornar a labuta diária menos penosa. Sabíamos que alguns postos de trabalho poderiam ser extintos, porém não imaginávamos que a máquina dominaria tanto a ponto de substituir totalmente o ser humano em algumas tarefas. Naquela época, não imaginávamos, por exemplo, que as agências bancárias com caixas humanos acabariam, e que, de casa, poderíamos fazer praticamente todas (ou quase todas) as transações financeiras.
Hoje em dia, entretanto, outro aspecto nos chama a atenção. A tecnologia com certeza tornou certas atividades menos penosas, porém o adoecimento no trabalho aumentou consideravelmente, principalmente o adoecimento como fruto de assédio moral. O tema tem sido amplamente discutido nas mais variadas esferas. Empresas públicas e privadas já incluem o assédio moral entre as práticas a serem combatidas por meio de medidas de compliance, ou seja, de procedimentos internos que são adotados com a finalidade de estabelecer códigos de conduta capazes de impedir, ou de minimizar, preventivamente, atos em desacordo com as normas ou regulamentos vigentes.
O trabalho, entendido como qualquer ocupação útil, é essencial na vida humana e importante para a saúde física e mental, devendo ser algo que resulte em bem estar e prazer para quem o executa. O trabalho remunerado tem o diferencial de ser condicional da sobrevivência humana, e, por essa razão, é muito comum que, para algumas pessoas, o quesito “remuneração” seja o único de peso, e a satisfação pessoal talvez fique esquecida. Mas, ainda assim, o trabalho não precisa e não deve ser algo penoso e adoecedor e, para isso, um ambiente de trabalho saudável deve ser a linha mestra de uma organização, porém, infelizmente, essa não é a realidade para muitos. Não sei se, talvez, por uma ansiedade extrema gerada pelo mundo tecnológico, onde tudo tem que estar pronto no menor tempo possível, tanto no âmbito público como privado; ou por pressão cada vez maior pelo cumprimento de metas; ou ainda por resquício de um passado recente em que a subordinação do trabalhador representava total submissão, mas fato é que, para muitos gestores, o assédio moral acabou tornando-se uma prática corriqueira de gestão. Pensa-se muito em alcançar resultados e pouco nas condições de trabalho para se chegar a esses resultados, e, somam-se a isso, os conflitos interpessoais que acabam se acirrando nesse panorama. O trabalhador, ao acumular contrariedades dia a dia, acaba adoecendo psicologicamente, e isso logo reflete em seu corpo físico e em suas atividades diárias. Isso leva a um trabalho com resultado menos satisfatório para o trabalhador e também para o gestor. Há gestores que pensam, equivocadamente, que maior pressão gera melhor resultado, o que não é verdade. A observação prática comprova que isso é um engano. O trabalhador contrariado nunca conseguirá dar de si mais do que o estritamente necessário, pois, para ir além, é imprescindível haver disposição e motivação. E ninguém, que não seja sociopata, é capaz de sentir-se motivado quando tratado com descaso, ou com desrespeito. É preciso que esses gestores se conscientizem de que o trabalhador humano não é como a máquina, pois é um ser que possui emoções, sonhos, projetos pessoais e peculiaridades que o diferenciam de qualquer outro ser humano. Práticas de gestão, em que o gestor se vê como que em um pedestal e o subordinado lá embaixo a executar suas vontades em plena submissão, são práticas arcaicas e que precisam ser combatidas. A evolução tecnológica trouxe benefícios, porém, para que tais benefícios sejam potencializados, é preciso que haja cada vez mais inteligência emocional nas relações. As relações em que impera a opressão são destruidoras e acabam levando ao estancamento total do desenvolvimento, inclusive da empresa, ou da instituição, como um todo. A empresa, seja pública ou privada, tem responsabilidade no adoecimento psicológico de seu corpo funcional. Hoje, a responsabilidade social empresarial é quesito indispensável no cenário. Essa responsabilidade social, traduzida em atitudes positivas para a comunidade em geral, passa antes pela promoção de um ambiente de trabalho e de relações de trabalho saudáveis e dignas. O assédio moral, entendido como atitudes que busquem desqualificar ou isolar um trabalhador, tratá-lo de forma desrespeitosa, ou como procedimentos diferenciados de tratamento entre uns e outros e estabelecimento de regras que busquem limitar ou dificultar o exercício de direitos, é algo inaceitável nos tempos atuais e que deve ser combatido e punido. Mas, além disso, requer ações preventivas como adoção de normas e regulamentos que impeçam atitudes de assédio, criação de instâncias democráticas destinadas à resolução dos conflitos de trabalho e de mecanismos que garantam a transparência nas relações entre gestores e subordinados.

Luciana G. Rugani
Academia de Letras e Artes de Cabo Frio – ALACAF e Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA

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