Luciana G. Rugani
Um assunto interessante e muito atual, sobre o qual hão debruçado estudiosos e cientistas, é o aprofundamento no conhecimento da dopamina e seus desdobramentos no âmbito das redes sociais e de outros ramos virtuais.
Na semana passada, eu assisti a um vídeo sobre isso em que o pesquisador alertava sobre como grandes negócios, que lidam com produtos atrativos e viciantes, utilizam, na expansão de seus produtos e serviços, as recentes descobertas sobre a dopamina.
Nós, que somos leigos, muitas vezes não paramos para refletir no quanto nossas ações cotidianas podem ser influenciadas pelo comportamento viciante e em como empresas ícones da tecnologia virtual têm esse comportamento como guia na elaboração de seus produtos. A dopamina é um neurotransmissor responsável pelas sensações de satisfação obtidas em recompensa por alguma ação. Quando alguém se deixa guiar descontroladamente por essas sensações, torna-se dependente, ou viciado, nesse algo que trouxe satisfação, e isso leva-o a buscar cada vez mais o objeto do vício, produzindo cada vez mais dopamina, e assim num ciclo sem fim. A essa descoberta físico-química sobre nosso organismo alia-se, por exemplo, o mecanismo de funcionamento dos algoritmos das redes sociais e das plataformas de ganhos virtuais. São os algoritmos que decidem, por exemplo, o que veremos nas redes, ou quem veremos. Os conteúdos das postagens com as quais mais interagimos, ou mais visualizamos, serão os conteúdos que nos serão exibidos nas redes; os perfis das pessoas com as quais mais interagimos serão os perfis que aparecerão no fluxo de conteúdo. Por isso, o mecanismo dos algoritmos acaba criando “bolhas” dentro das quais um público se fecha e assiste sempre a um mesmo tipo de conteúdo. São aquelas bolhas onde pessoas parecem viver em um mundo paralelo, acreditando em fatos inexistentes, teorias malucas de conspiração, e coisas assim, é o pensamento de bolha! E cria também, em algumas pessoas, a falsa sensação de abandono do tipo: “o que houve com você que não curte mais minhas coisas e não interage comigo?”. Aí você vai explicar que, em seu curto tempo para checar algumas notificações e correr o dedo rapidamente por ali, não aparecem as postagens da pessoa em razão de a rede social priorizar, para a exibição de conteúdos, aqueles com os quais há maior interação. E a pessoa escuta sua explicação e fica com aquela expressão de “sei…sei…”, e isso, às vezes, acaba gerando conflitos pessoais. Ainda sobre os algoritmos, a cada postagem bem sucedida, em termos de visualizações ou interações, o sistema exigirá outras tantas para manter a boa visualização. O usuário não poderá deixar de postar, senão o sistema reduzirá sua visibilidade. E se ele não parar para pensar nessa questão e se deixar levar pela satisfação de obter números cada vez maiores de interações, ele se tornará escravo dos algoritmos. Quando, por algum motivo, ele não puder manter o mesmo ritmo, ou caso ele se permita viciar e adote essas interações como critérios de aprovação de sua imagem, ele simplesmente se perderá de si mesmo, de sua realidade enquanto pessoa e poderá passar a ter sua autoestima controlada por esses algoritmos. Isso não é saudável!
É importante ter ciência da sutil ligação que há entre esses mecanismos virtuais e o sistema de recompensas satisfatórias que há em nosso corpo. Assim se produz o vício, quando, como seres inconscientes, não somos capazes de romper o ciclo viciante e nos rendemos à escravidão dos algoritmos. Não buscamos outros focos, outros temas, e aceitamos permanecer fechados, sem nenhuma reflexão, dentro de uma mesma visão propagada sempre pela mesma linha de pensamento.
E ainda, olha o tamanho do estrago que a tecnologia de algoritmos, aliada à busca pelo lucro a todo custo, produz quando utilizada em plataformas de aplicações virtuais, gerenciadas não se sabe por quem e nem como, sem qualquer garantia e sem nenhuma regulamentação! A tecnologia de um sistema manipulado e direcionado para estimular a falsa e viciante sensação de lucro rápido. E isso tudo acontecendo e se repetindo dia a dia em nossa sociedade!
É imperioso que haja mais critério na utilização dessas ferramentas tecnológicas. É preciso lembrar que nada ali é aleatório, que há empresas lucrando e muito com tais ferramentas e, para isso, elas possuem estratégias que levam em conta os mecanismos viciantes do corpo humano. Usá-las sem excesso, de forma criteriosa; tendo a consciência de que nada ali tem o poder de julgar quem é quem; de que nenhum quantitativo de interações é capaz de qualificar ou de desqualificar alguém; buscando enxergar outros prismas, ler, pesquisar, estudar e refletir em outros pontos de vista e, ainda, com a consciência de que na vida não existe distribuição farta de lucro fácil são condições a serem observadas sempre que forem utilizadas tais ferramentas.
A tecnologia virtual veio em definitivo e se desenvolve a olhos vistos, haja vista o crescimento dos recursos da inteligência artificial. É um caminho sem volta para o qual não há outra opção a não ser utilizá-lo, porém o controle maior deve permanecer em nossas mãos. Podemos tirar o melhor proveito possível dessa tecnologia, contudo sem nos tornarmos uma de suas engrenagens e, consequentemente, escravos dos algoritmos.
Luciana G. Rugani
Academia de Letras e Artes de Cabo Frio – ALACAF e
Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA.
Uma resposta em “A ESCRAVIDÃO DOS ALGORITMOS”
1º Lei da robótica: um robô não pode atuar de forma a causar danos no ser humano! O resto é secundário.