Octávio Perelló (*)
APOSTA NO BOLSONARISMO…
Serginho Azevedo (PL) parece ter decidido permanecer com os pés fincados no bolsonarismo, repetindo a cartilha usada na eleição de 2020, em que perdeu para o ex-prefeito José Bonifácio (PDT), por larga vantagem – cerca de 14 mil votos. Tal escolha significa aposta na ala mais conservadora do eleitorado, com militância radical, que costuma acelerar demais e causar acidentes nas curvas mais perigosas do processo eleitoral. Vale frisar que dentre a população cabo-friense há uma significativa parcela conservadora mais moderada que votou em José Bonifácio, considerando a experiência administrativa, a honestidade e a serenidade combativa que deu tom a sua campanha.
…REJEIÇÃO RESISTENTE
Mesmo sem o aceno explícito do deputado Serginho Azevedo, alguns de seus mais recentes apoiadores vêm tentando atrair progressistas que se juntaram em 2020 na campanha de José Bonifácio. No entanto, estes se sentem desconfortáveis em apoiar Serginho, justamente pelas ligações com o ex-presidente Bolsonaro e o governador Claudio Castro, entre outros. Consideram que o apego ao bolsonarismo o desvia do eleitor mais ideológico e do moderado, e também do debate das questões municipais, inclusive não explicando mais objetivamente por que seu slogan de campanha diz que “a vida vai melhorar”.
O PAPEL DE CADA UM…
Diante desse cenário, com a caneta cheia de tinta, inaugurações pontuais de reformas de escolas, creches e outras obras, há quem se surpreenda com as atitudes que a prefeita Magdala Furtado (PV) segue tendo, perdendo a chance de capitalizar essa resistência. É fato que a prefeita também atraiu alguma rejeição dos progressistas, porque desdenhou a herança de José Bonifácio (embora se beneficie das ações preparadas pelo ex-prefeito e sua equipe), e também em parte porque foi bolsonarista nas últimas eleições. Porém a pecha bolsonarista não lhe pesa e, ao reunir agora em torno de si algumas importantes legendas progressistas pode capitanear a construção de uma aliança que incorpore o antagonismo a Serginho, com apoios importantes e até inesperados.
…ACERTO DE PASSO
Há quem argumente que fechada a janela partidária, a prefeita pode surpreender com movimentações diferentes do padrão que tem seguido. A análise que pesa sobre essa tese é a de que há qualidades no seu modo de sentir e ver o processo político que ficaram em segundo plano nesses meses em que não teve vida fácil, principalmente com a Câmara de Vereadores.
MARQUINHO MENDES
Um interlocutor dessa coluna, muito próximo a Marquinho Mendes (MDB) garante que o ex-prefeito está articulando muito nos bastidores. E afirma, de forma gaiata, que das muitas fofocas que se cria sobre as supostas últimas movimentações de MM a maioria traz meias-verdades.
O QUE O VENTO SOPRA
A metáfora dos ventos numa eleição é das mais significativas. Ela traduz a vontade popular que muitas vezes se oculta em meio aos malabarismos e pirotecnias das campanhas, mas emerge nas horas decisivas, fazendo valer a máxima de Guimarães Rosa: “O que tem de ser tem muita força.” Os ventos que viram a favor e trazem essa força já operaram em Cabo Frio nas eleições de 2020 e em outros momentos. Há quem pondere que eles se anunciarão tão logo haja conversas decisivas entre lideranças progressistas que podem resultar numa candidatura que surpreenderá muita gente, dentro e fora do governo.
TIROS NO PÉ
Canta-se loas de cá ou subestima-se de lá, mas no frigir dos ovos podem apostar que, considerando a provável polarização que haverá em Cabo Frio e os erros de ambos os lados, vencerá a eleição em outubro quem der menos tiros no pé.
- Jornalista e produtor de conteúdo.
